terça-feira, agosto 03, 2010

Especismo



Há muito tempo que o ser humano usa os animais como meios de satisfazer suas necessidades e desejos, e por conta disso, milhares de animais sofrem diariamente das mais variadas formas. No especismo, de modo parecido com outros tipos de discriminação, como o racismo ou o sexismo, o interesse de um grupo de indivíduos são considerado maiores do que outro que pertence a uma determinada espécie. Neste caso, somos nós que colocamos (e muitas vezes sem a menor necessidade) nossos interesses sobre as outras espécies.

Usamos os animais para fazer comida, roupas, como meios de entretenimento e de pesquisa, e fazemos tudo isso sem nos importar nem um pouco, já que o pensamento especista nos foi, e ainda é, passado ao longo do tempo.

Muitos dizem que foi por "usar" os animais que nossa sociedade evoluiu até onde conhecemos, mas se eles foram e são tão importantes para a "evolução" da humanidade, por tratamos com tanto desrespeito esses seres? Talvez antigamente o uso de animais para alimentação e serviço tenha sido realmente importante, mas mesmo assim, havia um respeito maior, não só pelas outras espécies, mas por toda a natureza, onde o caçador pedia permissão à mãe terra para poder caçar.

É certo afirmar que os animais não são iguais a nós, não tem a mesma compreensão que temos nem os mesmos desejos, porém isso não significa que não devemos ter considerações por eles, por que assim como nós, os animais tem desejos por necessidades básicas como água, comida, liberdade de movimentos, companhia, abrigo e o desejo de não sentir dor. Eles também compreendem o mundo que vivem, e são essas semelhanças que devemos reconhecer para mudarmos nossas atitudes com os animais.

Respondendo a Descartes, que argumentava que os mal-tratos não estariam errados, por que os animais não tinham Almas, logo não pensavam e não sentiam dor, Voltaire escreveu no seu Dicionário Filosófico:
"Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, idéias? Pois bem calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos da aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento. Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda a parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimento de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objetivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição."

Todos sabem do sofrimento causado aos animais, mas poucos são os que tentam pelo menos amenizar esse sofrimento. Alguns evitam o assunto com medo de estragarem seu jantar, outros não aguentam ver e ler a respeito disso, e dizem sentir pena dos mal-tratos, mas mesmo assim continuam como cúmplices da industria. Pena não é o que deveríamos sentir, devemos sim é ter respeito!

Para encerrar esse simples comentário que escrevo sobre esse tema, cito um dos textos que mais gosto. Em seu livro "The Outermost House", Henry Beston escreveu:
"Nós precisamos de um conceito mais novo, sábio, e talvez mais místico dos animais. Longe da natureza e vivendo através de artifícios complicados, o homem na civilização vigia as criaturas através do vidro do seu conhecimento e vê, portanto, os detalhes de uma pena, mas a imagem geral distorcida. Nós os padronizamos por serem incompletos, pelo seu trágico destino de terem se formado tão abaixo de nós, e nisto nós erramos, e erramos gravemente. Num mundo mais velho e mais completo que o nosso eles se movem completos e confiantes, dotados com extensões dos sentidos que nós perdemos ou nunca possuímos, guiando-se por vozes que nós nunca ouviremos. Eles não são irmãos, eles não são lacaios. Eles são outras nações, presos conosco nesta vida e neste tempo, prisioneiros do esplendor e trabalho da terra."

Não estamos sozinhos nesse mundo, chegou a hora de dar o merecido descanso as outras espécies.

Hoje, chegamos a um ponto onde não é mais necessário usar os animais para nos "desenvolver” e “evoluir". O próximo passo para a evolução é exatamente deixarmos a natureza em paz, e aprendermos a viver em harmonia com todos os seres, talvez essa seja a mais difícil e maior evolução que raça humana possa conquistar!


Por Adriano Augusto


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